Chefchaouen, o paraíso Azul | Marrocos

Chefchaouen, chamei-lhe de paraíso azul, é uma cidade situada no Norte de Marrocos, rodeada das montanhas Riff, esta área é ainda conhecida pelas plantações de haxixe.

É uma vila que hipnotiza pela sua cor, pelos seus cheiros e pelas suas ruas. Para quem vive em Lisboa é uma comparação ao bairro de Alfama mas todo azul.

É fácil perder-se e até dá um certo gosto, as pessoas sorriem ao contrário de outras grandes cidades, uma cidade pitoresca que dá vontade de voltar. Tive a sorte de ter uma visita guiada pela cidade com a Arlene que estava também a fazer couchsurfing com o Nabil (Marroquino) que era professor de matemática.

Após uma pequena caminhada até ao miradouro sou surpreendida por esta paisagem:

Caminhar pela medina é refletir e aproveitar a paz do sítio, ainda que seja turístico é possível escapar. Ainda fiquei apaixonada pelo mercado, onde vendiam desde legumes a fruta tudo fresquinho e barato!

Aqui os velhotes não gostavam que os turistas tirassem fotos, creio que por invasão de espaço ou provavelmente ainda acabam num postal! É compreensível!

Deixo-vos com algumas fotos deste sitio magnífico e se forem a Marrocos não deixem de passar por Chauen.

 Azul é tranquilidade e harmonia e é isso mesmo que esta cidade reflete para os que lá passam. O Azul simboliza o céu, o mar e o infinito. Estar nesta cidade acalma a alma.

Boas boleias!

Abril 2017

Marta Durán

Tânger tornou-se especial | Marrocos

Esta aventura a Marrocos começou atribulada depois de 2 dias à boleia de Lisboa até Algeciras cheguei e os barcos não faziam a travessia até Tanger Med devido aos ventos fortes. Assim fiquei 1 dia parada naquela cidade onde pouco se faz, porém tive a sorte de ficar num hostel com ambiente familiar onde me trataram super bem.

Não queriam que me fosse embora, mas há dias assim, o chamado dia da despedidas. Acredito que deixamos sempre um bocadinho de nós por onde passamos e comigo levo parte deles.

Já no porto:

Filas e filas de pessoas que já estavam há 3 dias sem barco.

A entrada no barco estava demorada e a meu lado estava Filipe de prancha na mão, sozinho também, acabámos na conversa  e dei por mim já acompanhada até chegar a continente Africano.

A travessia foi morosa muita ondulação e antes de sair ainda tive que esperar 1 hora na fila para ter o passaporte carimbado!

O Ferry para em Tânger Med que fica a cerca de 50km de Tânger.

Fui até ao autocarro que apenas custava 7 Dhr (70 cent) no entanto não aceitavam notas e eu também não tinha moedas, tive a sorte de um senhor super simpático que também esperava o autocarro pagar-me eheh

Chegada a estação esperei 10 minutos pelo Achraf o meu anfitrião do couchsurfing, fomos de imediato deixar a minha mala a sua casa, disse que íamos de táxi (Achei-o muito fino inicialmente por andar de táxi mas depois percebi o esquema)

Fomos até à estação de táxis e entrámos num táxi com 5 pessoas lá dentro sim eu primeiro achava que já estava completo mas não 3 pessoas à frente e 4 atrás cada um paga 5 DRH (50 cent) e foi assim que nos transportámos todos os dias! Tipo sardinhas enlatadas .

Fomos logo jantar couscous com legumes e ele um peixinho frito.

Os colegas de casa do Achraf:

O Achraf acompanhou-me o Domingo todo e fez-me sentir como uma verdadeira local:

Pequeno almoço a 1 euro e pouco, uma sandes de queijo barrado com ovo cozido e um sumo de laranja natural.

Foi dia de clássico Barcelona-Real Madrid e fui assistir ao jogo a casa de um amigo Marroquino porém encontrei pessoas de todas as nacionalidades!

Posso dizer que os Marroquinos são loucos pelo futebol e foi um jogo muito intenso!

Fomos beber o típico chá ao café Hafa, bastante popular em Tanger pelo seu chá e pela vista em redor.

Só posso agradecer ao Achraf pelo fim-de-semana que me proporcionou em Tânger, de couchsurfing a um amigo super atento e simpático! Mais uma vez a minha teoria de que as pessoas tornam os sítios especiais confirma-se até uma próxima querido amigo.

Marta Durán

23.04.2017

Quando te derem aceita, quando te tirarem grita

Hoje escrevo de olhos brilhantes e de coração preenchido. Hoje muita história passou por mim e hoje vivi na pele a vida de outros que me deixaram em lágrimas, que me deixaram a pensar no sentido da vida e que na verdade cruzei-me com estas pessoas para lhes dar uma luz nestes dias que tardam em passar.

Depois da estadia maravilhosa em casa do Sr. Vítor e da dona Angelina, aos quais não tenho como agradecer e foi um até já pois ficou a promessa de irem dar uma volta de tuk tuk comigo por Lisboa.

Com eles mais uma vez limitei-me a aceitar  e o Sr. Vítor deixou-me com a seguinte frase

“Quando te derem aceita, quando te tirarem grita”

Deram-me tudo, boleia, abrigo e comida. Estou grata a estas pessoas que passaram por mim.

Deixaram-me na estação de serviço onde fiquei 1h à espera.

Parou um rapaz com 3 filhos era britânico e disse-me que não sabia para onde ia só que ia para Espanha. Um ambiente estranho e pesado no carro, ele conduzia rápido e na verdade parecia-me um gangster repleto de anéis de ouro, colares em Cruz e com o dólar. Restou-me brincar com os miúdos e acabámos a cantar “I crush my car into the bridge” .

Fiquei na fronteira onde apenas havia um parque de descanso vazio. Esperei 15 minutos até que apareceu a Camila, metade americana metade venezuelana, comunicamos em inglês todo o caminho, ela tinha estado em Olhão (uma palavra que nem sabia pronunciar) numa consulta para tratar de um problema que tinha no pescoço. Uma senhora muito alegre e simpática, cantámos e ainda me convidou para um café, diz que também vai para Marrocos talvez nos encontremos por lá!

Desviou a sua rota e deixou-me mais à frente numa estação.

(Tem a mão à frente da cabeça pois dizia que estava despenteada para a fotografia)

Enquanto mostrava a placa o Juan aproximou-se e ofereceu boleia no camião, portem estava com receio porque levava carga perigosa e eu tinha que ter autorização para ir com ele, mesmo assim arriscou . Trabalha desde os 20 como camionista e tem 3 filhos pequenos diz que tem a sorte de puder ir todos os dias a casa por faz distâncias curtas.


Deixou-me numa zona empresarial onde ainda esperei uma meia hora pelo Miguel, tinha uma empresa de construção e tinha acabado de carregar material antes de me apanhar!

Estudou em Boston e tinha 2 filhas lindíssimas! Ao falar perdi a conta de quantas vezes disse “tota” era a sua bengala de comunicação mais específica, contou-me as suas aventuras em Marrocos há 20 anos atrás e como ainda se lembrava da primeira vez que foi a Portugal.


Enquanto esperava pela próxima boleia apareceram 4 motars Portugueses que iam para Marrocos e só não me deram boleia porque não tinham capacete! Teria sido a primeira boleia de mota! Combinamos encontrarmo-nos algures em Marrocos!


Apareceu Jesus, e se eu tivesse palavras para descrever a força e o coração desde homem juro que o faria. Levou-me ás lágrimas ao longo das quase 2h de viagem.

“Voltei agora do hospital de Sevilla o filho da minha mulher vai morrer. Estamos à espera que morra.  Tem 11 anos e um tumor cerebral. Aqui estou eu à espera que o coração pare e que ele descanse em paz”

Diz-me isto abatido e quase sem forças.

Ele não dormia há 48h e parece que tudo lhe acontecia na vida. A mulher deixou-o com 2 filhas (e era um pai tão babado as “minhas meninas”) seguiu em frente. Perdeu o pai aos 20 e agora isto.

O Jesus estava mesmo em baixo mas ajudou-me e tinha forças para sorrir via a vida de uma forma bonita. Pratica budismo e medita quando pode, considera a sua casa um templo. Passou muitos anos em alto mar nos cargueiros pois era engenheiro.

Ainda parámos e convidou-me para um café, e este encontro já estava marcado, ele precisava de desabafar afinal o mundo estava a desabar e eu estava ali para ele. Ele dizia isto está a ser difícil mas o depois não será melhor.

O Jesus fez-me pensar muito na vida e questionou-me muito, deixou-me em lágrimas e arrepiada com as suas palavras e modo de enfrentar a vida.

Ao Andros a criança que não tive oportunidade de conhecer pessoalmente e que provavelmente neste momento já é uma estrelinha brilhante no céu guardo a sua história no meu coração e mantenho-o vivo neste meu cantinho a que chame de blog, que está recheado de pessoas incríveis. Descansa em paz pequeno grande herói.

E a ti Jesus, obrigada pelos conselhos e pela amabilidade até que o nosso caminho se cruze uma vez mais.


Fiquei no centro da cidade, mesmo em frente ao Porto dos barcos. Perdi-me entre as ruelas e cheguei ao hostal fez, estilo marroquino, entrei. Primeiro pediram-me 15€ por um quarto perguntei se não tinham nada mais barato. Assim foi 10€ uma cama.


Pela noite fiquei à conversa com a Laura (falarei dela noutra altura para contar a sua história)

Fui dormir com 2 marroquinas e 2 bebés, claro que acabei por não dormir nada, a luz ficou acesa porque o bebe não dormia às escuras e entre choros e tosses imaginem. Vale a experiência de me sentir observada por 2 mulheres de burca e até coloquei o gorro da sweat para não estar tão “destapada”.


Escrito a

20.04.17

Marta Durán

Ir é o melhor remédio

É tudo tão perto mas tão longe, cheguei há 2 meses a Portugal e entrei logo em ritmo de trabalho. Desde Agosto que andava a saltar de país em país e até posso dizer de continente em continente, África, Europa e América do Norte. Regressei à base e não vou mentir soube tão bem, engordar alguns kilos que deixei pelo caminho, rever e viver os amigos, estar em família e estar em casa. Porém há um bicho constante que não me deixa querer parar de desvendar e em 2 meses “parada” já só sentia vontade de me aventurar de novo e decidi vir. 

Ir é o melhor remédio.

2 semanas é o tempo que preciso para mais uma vez sentir esta adrenalina esta aventura, este auto-conhecimento. 

Fiz a mala e vim. 

Ontem dormi em casa da Maria na margem sul,  ia-me dar boleia no dia a seguir para a estação de serviço de Palmela. 


E assim foi, eram 11 e picos e já estava de cartaz na mão, “Algarve” podia-se ler.  Foram 10 minutos e apareceu o Sr. Vítor e a Dona Angelina.

“Para que zona do Algarve vais?”

“Tanto me faz, o meu destino final é Marrocos.”

“Vamos para Vilamoura”

Arranca. 

Antes de pôr a mochila no porta-bagagem o Sr Vítor com um ar meio a sério meio a brincar pergunta-me

“O que leva aí dentro desse saco? Desculpa-me a pergunta mas há que precaver”

Ri-me. 

“Não se preocupe nada de material ilegal nem drogas, apenas comida e roupa”

Quebrámos logo ali o gelo. 

Conversa puxa conversa e já me sentia em “casa”. 

Parámos a meio caminho para almoçar. No final o Sr. Vítor não me deixou pagar. 

“Quando fores mais velha pagas a quem estiveres a dar boleia”

Assim o farei. 

Não tinha planos de onde dormir hoje, ia acampar algures, até que os planos surgiram.

“Se quiseres podes passar a noite lá em casa, temos um apartamento mesmo em cima da marina de Vilamoura e temos mais que espaço”

Como assim? Que pessoas incríveis, já me estavam a dar boleia, almoço e agora casa? 

Obrigada, obrigada.

Temos que ser uns para os outros.

E agora aqui estou eu, na praia a escrever-te, a escrever-vos para que me acompanhem nesta aventura tão minha mas que em parte é vossa ao mesmo tempo. Quero mostrar que para viajar não é preciso mundos e fundos, basta espírito, disponibilidade, uma pitada de coragem e coração aberto. 


Sempre com precaução claro.

O mundo é lindo e está repleto de pessoas lindas, temos que saber encontrá-las ou simplesmente elas encontram-nos.

Sabem, o difícil é partir, dar o primeiro passo, depois tudo se torna mais fácil basta confiar nos nossos instintos, no coração e que o que nos espera vai valer a pena. 

Por agora estou a jantar em Almancil, até amanhã .


19.04.17

Marta Durán