Langtang & Lagos Gosaikunda

Depois de 15 dias de trekking pelo circuito de Annapurna, que fizeram maravilhas ao corpo e à alma decidi aventurar-me por mais montanhas, desta vez pela zona de Langtang e dos lagos sagrados de Gosaikunda.

Aqui partilho partes do diário em dias que me marcaram mais, ou simplesmente é o que neste momento me faz sentido partilhar com vocês.

Aqui vai!

6/11/17

Localização: Woodland Guest House

Langtang foi das áreas mais afetadas pelo terramoto de 2015, e é notório quando se lá passa.

Uma derrocada gigantesca de um glaciar que destruiu um vila e mais de metade da população morreu. É incrível passar ‘’por cima’’ do que um dia foi uma aldeia, subterradas naquela imensidão de rochas estão vidas, histórias, pessoas..

Langtang renasceu a uns km mais à frente, famílias que perderam tudo recomeçaram do 0 com ajudas de ONG’s e com o resto de fé que ainda tinham.

Perguntar aos locais sobre o terramoto é fazer-lhes recordar o pior dia das suas vidas e da sorte que têm de estar ali para contar a história.

É triste saberem que pais, irmãos, amigos estão a escassos metros debaixo de escombros.

Caminhar por Langtang é emocionante e sente-se uma mística no ar, uma paz triste, uma força da natureza impossível de combater.

Relembro também as pessoas que como eu, que vinham conquistar montanhas e cumprir sonhos, estar em harmonia com a natureza acabando por perder a vida neste desastre natural.

Creio que toda as estrelas que beijam este céu são aqueles que perderam aqui a vida.

Hoje, longe da azafama da rotina da vida real, das horas, das regras. Estou perdida no tempo e no espaço. Isto traduz-se em felicidade.

9/11/17

Gosaikunda (4400m)

Os lagos sagrados, onde se diz que se se mergulhar ganhamos poderes do deus Shiva, mas com este frio torna-se uma missão quase impossível.

Este ambiente e os lagos rodeados pelas montanhas nevadas fizeram-me ficar por mais uma noite, o Inverno começa em 1 semana e os lagos vão congelar e tudo ficará mais branco.

É extraordinário pensar que estou no meio das montnhas que o tibete é já ali que me superei a todos os níveis.

Foi 1 mês a caminhar, de descoberta interior e de conhecimento pessoal, foi testar os limites e viver em pleno.

Perder-me nos dias e nas horas e não ter planos ser o maor dos planos. Estar longe do mundo e da realidade da vida que nos consome sem que nos apercebamos disso.

Estar aqui é fugir mas também encontrar algo nunca antes sentido.

(Demasiado frio, a garrafa de água ficou de fora e congelou)

12/11/17

Localização: Chisapani

O fim de mais uma caminhada viver é experimentar e não ficar a pensar no sentido da vida.

Por vezes é preciso para longe antes que possamos compreender o que está perto.

Nasci viajante, há algo em mim que me move constantemente a explorar, a buscar o meu interior por mais que esteja sempre comigo. Há um mundo que me faz sair de casa e encontrar-me com a vida constantemente.

‘’ Os sonhadores não podem ser domados’’

Agradecimento:

Quero agradecer ao Romén que conheci no segundo dia do trekking numa guest house que me acompanhou na conquista desta montanha! Por todos os momentos partilhados motivação e força de vontade.

Começamos um caminho sozinhos mas a verdade é que há sempre alguém especial que se cruza pelo caminho!

Vêmo-nos nas Canárias, em Portugal ou pelo MUNDO!

HASTA PRONTO AMIGO 😀

Desabafos p’las Annapurnas VI e VII

-Thorung High Camp-  (4800m)

17/10/2017

Hoje era uma distância curta, mas íamos subir até aos 4800m logo já sabia que de fácil nada teria. Hoje ficamos no Campo alto de Thorung pois amanhã é o dia D, cruzar o passe.

Fui devagar, ao meu ritmo. As subidas já em certa altitude cortam a respiração e cada passo é um desafio.

Antes da maior subida parei uns 30 min e comi um chocolate que ”soube a pato”.

Estar em sintonia com a natureza ajuda a ultrapassar cada desafio. O silêncio, o vento, os pássaros.

Parar, respirar olhar em volta e voltar a caminhar.

‘’ Que sorte tenho em estar aqui’’

Que feliz sou quando entregue às montanhas, ao mundo virgem e ás pessoas de alma desprendida.

Por mais que custe a subida, o topo é vitória, porque eu consegui! E quando rodeada de pessoas que te motivam mais fácil se torna.

À chegada já estava Laura, Juan e Rámon a esperar com um sorriso e um abraço.

Partilhamos vitórias e sofremos juntos.

Foi um dia de volta da mesa, rodeada de pessoas que aquecem a alma!

Como vou guardar estes ninhos e passarinhos no meu coração.

(Espanhóis são ninhos e passarinhos, expressão usada pela minha mãe porque falam muito)

-Thorung la Pass-

(5455m)

18/10/2017

O DIA D

Chegou o dia mais esperado, cruzar o ponto mais alto do circuito da Annapurna.

Uma subida que podia correr mal, uma montanha que podia ter ficado por escalar. Um sonho que poderia ficar por cumprir.

Mas em primeiro lugar estamos nós e a nossa saúde.

Foi uma subida de 5km, onde escalaria quase 1000m, o ponto mais alto em que estive na minha vida.

Coragem e força de vontade, iniciei a subida, os primeiros metros são complicados, o corpo está frio e a habituar-se ao ritmo. Depois de aquecido pensava que seria mais fácil, mas não. Era só subir, e cada passo custava mais que o outro, a respiração tinha que ser controlada e as paragens ao longo do caminho para acalmar o batimento cardíaco, pois por vezes parecia que o coração ia saltar pela boca.

Assim que ia subindo senti a pressão na cabeça e o estômago a dar voltas, aí tudo complica. A cabeça parece que vai rebentar cada vez que subo uns metros.

Que jogo físico e psicológico constante.

‘’Faltam 10 min’’

E não parei de subir a minha montanha, de alcançar o meu objectivo. E já a chegar avisto laura de sorriso estampado no rosto e de braços abertos para me apoiar! Não consegui segurar as lágrimas, chorava de felicidade emoção e cansaço.

Foram tantos dias a caminhar, a partilhar e a chegar àquele ponto foi escalar a montanha que tanto desejara e poder partilhar a dor, o sofrimento, a emoção, a felicidade com todas estas pessoas tornou a caminhada tão mas tão mais rica.

Subi com a Eva e o Israel que me motivaram até ao fim!

Conseguimos! E a vitória partilhada sabe tão melhor!

Testar o corpo e a mente desta forma foi dos maiores desafios até hoje, e este desafio fortaleceu algo que estava por descobrir em mim.

A descida foi dolorosa, a cabeça latia a cada passo e os joelhos reclamavam foram 3h de descida a pique. A Eva e Israel estavam comigo, estava com sérias dores de cabeça e tinha que parar imensas vezes, acompanharam-me até ao final. Como pessoas que ao cruzar um olhar podem não nos dizer nada e depois tornam-se companheiros de uma viagem que fica marcada para a vida?

Mais uma vez, exaustivamente feliz!

E estou inexplicavelmente de coração cheio.

(No topo só me lembrava de Hakuna Matata, a vida sem problemas!)

Desabafos p’las Annapurnas: IV e V

-Tilicho Base Camp-

(4150m)

14/10/2017

Há dias que temos ideias loucas, e hoje foi um deles.

O plano era fazer 35 km num só dia e assim retirávamos 1 dia à caminhada. Estava louca quando achei que era possível, aliás estávamos todos loucos, porque através da leitura do mapa parecia possível, esquecemo-nos foi do problema da altitude e que estávamos a 3500 metros e teríamos de ir até aos 5000m e voltar.

Sim podem chamar-me de louca.

O plano foi o seguinte:

Deixar o peso todo numa guest house em Khangsar e ir até ao lago e voltar (total de 35 km). A meio do caminho para o campo base (onde acabaríamos por ficar a dormir) apercebi-me que não era possível chegar até ao lago, era muito longe e este caminho eram todo de desfiladeiros, um passo em falso e escorregava pela montanha a baixo (perdia a vida para ser realista).

Reformula-mos a decisão ficaríamos no campo base do Tilicho a aclimatar à altitude e no dia seguinte subíamos ao lago e regressávamos a Khangsar onde tínhamos as malas.

Durante o trekking podemos ver vários avisos com os cuidados a ter com a altitude e os sintomas (dor de cabeça, tonturas, vómitos e febre), em casos extremos pode levar á morte. Assisti a um resgate de helicóptero, e ainda um senhor que mal se conseguia suster em pé, caminhava como se estivesse super bêbado. Vou ser sincera estou com medo de não conseguir chegar ao lago que está a 5000 m.

Chegámos e havia 1 quarto com uma cama de casal livre (nós somos 6), havia a opção de 3 pessoas ficarem na sala comum a dormir no chão, mas como somos um grupo unido decidimos enfiar 6 pessoas num quarto minúsculo. As 3 mulheres na cama e os 3 homens no chão, com o frio que estava o calor humano ajudou a que todos dormíssemos bem!

Depois de um dia delicado como o de hoje já só quero descansar, estou ansiosa para o dia de amanhã! Chegada ao lago mais alto do mundo de acordo com o seu tamanho!!!!

– Tilicho Lake- 27km

15/10/17

Às 5h estava de pé, tinha que subir cedo para não apanhar muito vento e ter tempo de regressar.

Eram ‘’apenas’’ 5 km, que sobem 1000m de altitude, há quem os faça em 3h, 4h e até em 5h.

Fiquei-me pelas 3h, mas 3h que me pareceram uma eternidade.

A falta de oxigénio na subida era notória desde o primeiro passo. Uma subida íngreme que parecia não ter fim é uma luta e um desafio constante, quer físico quer mental. O meu objectivo era chegar ao lago e a dificuldade por vezes leva à desistência (haviam pessoas a descer). Nunca o pensei fazer porque o sonho estava no topo daquela montanha, estava cada vez mais perto a cada passo, a cada respiração.

No meio de tanto frio estava espantada com a beleza natural do lago a 5000m de altitude! Lindo Lindo Lindo.

Queria ter ficado lá, mas o frio gelava e o vento apareceu.

Já posso dizer que estive no lago mais alto do mundo de acordo com o seu tamanho, e é incrível.

Ali estava ele, intocável, grandioso. Que beleza.

Eu estava orgulhosa de ter ali chegado, há tanto que esperava por aquele momento. Depois de tanto esforço ali estava eu a erguer a minha bandeira. Com orgulho.

A regressar não contive as lágrimas deparei-me com uma panorâmica dos himalayas, deparei-me a realizar um sonho, deparei-me exausta mas tão feliz.

Depois da subida mais difícil vem a vista mais bonita, e de facto nunca tinha visto nada tão natural e virgem à mão do homem.

Estou exaustivamente feliz.

Em 1h30 desci, a descer todos os santos ajudam! O oxigénio voltava à medida que descia mas uma grande dor de cabeça acompanhava-me.

Cheguei quase sem forças ao base camp e ainda tinha uma longa etapa pela frente.

Almoçámos e fomos.

Tínhamos que regressar a Khangsar onde tínhamos deixado as malas no dia anterior, 18 km pelas derrocadas, foi um desafio enorme e parecia que nunca mais chegava, uma dor de cabeça que não me largava e passos que custavam a dar.

Ninguém disse que cumprir sonhos era fácil.

Estou orgulhosa de mim, quero continuar a palminhar montanhas e a superar-me todos os dias. A superação pessoal trás resultados e mostra algo que nunca tínhamos visto em nós.

Desabafos p’las Annapurnas: III

13/10/2017

O cansaço consome os pensamentos que têm dificuldade a ser transmitidos em papel, os olhos vão-se lentamente fechando, e a caneta cada vez deitando menos tinta.

Estou morta, 24km em cima e cheguei aos 3540m de altura, estou em Manang.

Uma etapa fisicamente desgastante, com uma subida inicial que parecia não ter fim, um sol abrasador e um corpo cansado.

As paisagens deslumbram, mas a chegada foi uma luta constante.

Uma bolha que incomoda nas subidas, mas é só psicológico, em 2 dias chego ao lago tilicho. O lago mais alto do mundo de acordo com o seu tamanho, estou desejosa de lá chegar.

Até agora sinto-me bem em relação à altitude, estava com algum receio depois de testemunhos que passaram mal e tiveram que baixar, mas estou quase a metade da altitude máxima que vou atingir. Aclimatar e aproveitar cada dia.

São 21h e dentro do saco de cama já meio adormecida sorrio por estar aqui.

Aqui vão algumas fotografias:

Desabafos p’las Annapurnas: II

12.10.2017

”Sou as pessoas que conheci”

Dou por mim a ver os dias passar num ápice e a não conseguir agarra-los, estar no meio desta imensidão enche a alma e completa tudo o que um dia aqui faltou.

Cada dia compreendo mais a magia dos himalayas a paz e a força da natureza que é algo intocável e inigualável.

Esfrego os olhos e pergunto-me se é real.

Como iniciei só esta viagem e terminei junto de 5 pessoas fantásticas.

Reencontrar algo que havia perdido está a poucos passos de distância, agora é alimentar todas estas boas energias e pensamentos e espalhar, partilhar com os outros, que tal como eu tenham a oportunidade de sonhar alto e de se realizarem. É tão bom quando podemos partilhar sorrisos e sonhos é tão bom sentir felicidade e paz no ar.

Se cada um escalar a sua montanha da vida aproveitando cada passo, sairá mais rico e de energias renovadas.

A minha montanha está a ser esta, mas em cada lugar há um sítio especial à nossa espera, temos simplesmente que sair, parar, olhar, sentir e entregar-nos ao mundo de alma despedida.

-Upper Pisang-

(3200 m de altura)

Até ao próximo desabafo 🙂

Desabafos p’las Annapurnas: I

O blog esteve parado, eu estive parada, no meio da rotina, das aulas e de Katmandu não tinha vontade de escrever.

Regressei, e em força.

Iniciei uma caminhada, esperava por isto desde que me lembro. Sabem aqueles sonhos que estão escritos algures em papel do que fazer antes de morrer? Pois bem fazer uma caminhada nos Himalayas era um dos meus maiores sonhos!

Partilharei com vocês excertos do meu diário, onde cada dia pela noite desabafava o que sentia e os frutos do dia.

Espero que gostem e acompanhem este percurso que foi um mais que um sonho e que vocês próprios se envolvam com a magia dos Himalayas.

10.10.2017

Hoje cada passo que dava era dado cheio de motivação, fui acolhida pela grandiosidade da Natureza e nunca tinha visto nada igual.

Estou tão feliz por estar aqui e tão realizada, atirar-me de cabeça para este trekking fez com que novas ideias surgissem, fez com que ganhasse ainda mais motivação para a viagem que aí vem, fez-me sentir que o destino guarda-me coisas maravilhosas e insistir na auto-realização vou crescer em cada experiência vivida.

Tenho o coração livre e recheado de boas energias. Dou por mim a sorrir para as montanhas, para as cascatas, para os animais e para o céu onde tenho lá os avós que olham por mim e me acompanham.

Sei que depois de uma subida vem algo maravilhoso, cada gota de suor, cada passo, cada dor muscular é a junção para um tipo de felicidade que por vezes está escondida e tende em ser difícil de ser encontrada.

Estou no meio da mãe natureza e não há nada mais puro que isto.

Eu e as montanhas!

Que montanha da vida é a minha!

Local: Danagyu

Km’s percorridos: 22km

Marta Geadas Durán

1 mês e meio depois

Estou há horas nesta página em branco, na verdade para vos ser sincera esta página está em branco desde a última vez que escrevi. Deixada ao abandono, até hoje que resolvi sentar-me e refletir sobre este primeiro mês e meio em Katmandu, agora apelidado de Dustmandu (já vão perceber porquê)

Esta introdução dá a parecer que têm sido tempos difíceis, mas antes pelo contrário. Não tenho escrito, não por falta de tempo, tenho bastante tempo para mim e para as minhas coisas, mas tenho aproveitado o tempo para explorar, estar, conviver e aprender mais sobre esta cultura e estas pessoas.

Tenho aulas apenas da parte da manhã, ou seja, a parte da tarde é inteiramente dedicada a mim, tive que me obrigar a sair e a conhecer (obrigar é só uma expressão porque o que mais gosto é de sair e conhecer o que me rodeia), tenho ido jogar futebol, andar de skate ou então há dias como hoje que fico em casa a escrever ou a ler um livro e convido algum amigo (já tenho alguns) para vir passar a tarde.

Já percorri grande parte da cidade e já visitei a maioria dos templos de Katmandu.

O Terramoto destruiu parte dos monumentos e é visível parte da destruição, a entrada nestas áreas é cobrada aos turistas, portanto a mim não me vão cobrar, se for a pensar cada vez que vou visitar estes sítios ter que pagar 10 euros não dá para me sustentar aqui. Arranjo sempre formas de ‘’sneak in’’ infiltrar-me. (Quem me vier visitar prometo entradas gratuitas e visitas guiadas, estão todos na guest list)

Mas esta estratégia de infiltrar-me chegou a outro nível, há umas semanas atrás fui com as minhas alunas ao templo Pashupatinath, conhecido pelas cremações dos corpos. A entrada dentro do templo é estritamente exclusiva para Hinduistas, mas eu queria entrar e elas queriam que eu entrasse. Então, umas das minhas alunas emprestou-me uma Curta (veste típica), umas pulseiras típicas e eu coloquei os óculos de sol para não verem os meus olhos. Foi arriscado na verdade não sei o que me poderia ter acontecido, mas nada demais certamente seria apenas expulsa. A entrada era reforçada mas eu simplesmente confiei que era uma Nepalesa, entrei e imitava exatamente as minhas alunas a rezar, sem desrespeito algum, mas foi uma experiência super interessante e única. Ficará na memória porque era proibido tirar fotos lá dentro.

Dustmandu- A cidade foi apelidada de tal forma porque cada vez que saio à rua tenho que usar a máscara, a poluição é terrível nomeadamente o pó (Dust).

Tenho que escrever mais mas perco-me nos dias e deixo para ”amanhã”, Katmandu já é casa, já conheço os vizinhos, o senhor dos legumes, o que me carrega o telefone, o dono do supermercado Blue Moon, os dealers que vendem haxixe em Thamel, o Bairro Alto de Katmandu, (não porque consuma mas porque vou lá muitas vezes e já me conhecem), os empregados do restaurante em frente à escola e incrivelmente já me acontece cruzar-me com amigos na rua e oferecem-me boleia até casa.

Já há algumas peripécias obviamente e já soltei muitas gargalhadas à conta do caos que aqui por vezes se vive!

Estou cá até final de Novembro por isso ainda há muito para viver!

Há imagens valem mais que mil palavras por isso aqui vão algumas imagens do meu dia-a-dia em Katmandu:

21.08.2017

Marta Durán

Casamento Nepalês

” Martina, later wedding?” Pergunta-me a mummy (a minha mãe Nepalesa) no seu inglês peculiar.

Aceito sem pensar duas vezes, estou cá nem há 2 semanas e já sou convidada para casamentos? Não sei se voltarei a ter uma oportunidade destas.

A mummy emprestou-me um Sari (veste tradicional), arranjei-me e fomos.

Sobre o casamento no Nepal:

Aqui a celebração do casamento pode durar até 1 semana, são casamentos luxuosos e vibrantes. A religião dominate no Nepal é o Budismo e o Induismo, este era um casamento budista. Hoje em dia ainda é muito recorrente os casamentos arranjados pelas próprias famílias, principalmente os noivos têm de ser da mesma casta (classe social) há um número incontável de castas mas a classe social normalmente é vista pelo o apelido familiar.

O casamento segue-se com algumas tradições, porém eu estive presente na festa, os noivos já se tinham casado uns dias antes noutra cidade do Nepal.

Desde a minha chegada os noivos ficaram no palco junto do trono a receber as pessoas, familiares e amigos. Cada convidado oferecia um khata (cachecol normalmente feito de seda) ou um ramo de flores. Aquando festividades, casamentos, funerais, nascimentos chegadas ou partidas é oferecido um khata como sinal de pureza e compaixão. (Eu própria antes da partida de Lisboa recebi um khata do Kamal e na chegada a mummy recebeu-me com outro).

(O meu pensamento foi, será que guardam todos os khata? Aos poucos iam-nos tirando do pescoço porque senão chegavam ao final da noite sem espaço para mais.)

E num casamento o que é que não pode faltar? Na verdade nós, convidados só vamos ao casamento por uma simples razão COMIDA.

Aqui não foi excepção, obviamente que não vim pela comida, mas não vou mentir foi um dos pontos altos da noite, tive a oportunidade de experimentar vários pratos típicos (somente os vegetarianos, que na verdade eram a maioria) e as sobremesas!

Mas isto não é tão fácil como parece, tem todo um processo ”esquisitóide” da minha parte.

Primeira pergunta:

”É vegetariano?” – se a resposta for sim, passo para a próxima questão;

“É picante?” – aqui tenho sempre várias respostas e há que saber descodificar bem a pessoa pelo seu sorriso e olhar .

-”yes” ok, ele tem completamente razão, quando eles dizem que sim é porque até dá para cheirar o picante à distância ( e não estou a mentir) de certa forma até os olhos lacrimejam.

–  “A little bit” e este ”um pouco” torna-se um picante extremamente picante para o meu paladar.

E depois há dois tipos de ”No”, o não verdadeiro que de acordo com os meus gostos é comestível e consigo apreciar e depois há um ”não” que ainda assim a comida é picante mas nada que 1 litro de água durante a refeição não resolva.

Aqui vão alguns pratos deste casamento:

Por fim depois do jantar foi a hora da dançar, música Nepalesa e música Indiana todo um novo estilo que eu nunca tinha observado (quem conhece a maneira meia Africana que danço vão ver agora um acréscimo Nepalês).

A pista situava-se no centro da sala em forma de circulo e estava rodeada por cadeiras com pessoas a assistir, as mulheres dançam com as mãos e a anca e os homens dão uma espécie saltos e mexem as pernas para os lados.

Aqui vos deixo com algumas fotos que tirei no casamento:

10.07.2017

Marta Durán

Casa nova: Katmandu, Nepal

Namastê,

Foi uma chegada atribulada, o voo aterrou de emergência (demoraram 3h em arranjos) e ao chegar ao aeroporto a minha mala tinha sido extraviada.

O Bishwo (irmão do Kamal, o director da escola) estava à minha espera e seguimos até casa de carro.

Olhava em redor e tudo era diferente, as cores, os cheiros, a confusão, as pessoas.

Está um calor húmido que nos primeiros momentos custa a respirar, a roupa cola-se ao corpo e num instante estamos pegajosos. Em Macau também era assim, recordava.

Toda a gente apita sem motivo, as regras de trânsito parecem não existir, ou na verdade cada um faz as suas regras.

É uma aventura cada vez que se sai à rua, desviar das poças de lama, usar máscara quando o pó é demasiado, atravessar estradas entre o amontoado de carros e motas, e tentar não ser atropelada porque a invenção das passadeiras aqui é apenas um efeito estético, pedir comida sem picante (quando eles dizem ”it’s just a little bit” é porque para mim é extremamente picante) e pedir um táxi com meter tcha (taxímetro).

Os Nepaleses são acolhedores e apresentam sorrisos constantemente, prestáveis e muito curiosos.

Os meus primeiros dias têm sido fantásticos, a Teresa que é a professora que eu vou substituir tem feito de tudo para me integrar aqui, mostrou-me a cidade, apresentou-me a Catarina ( voluntária da Obrigado Portugal) e o Matt que trabalha cá.

Já percorri parte da cidade e ainda é possível ver os destroços que o terramoto provocou.

O que vim para aqui fazer perguntam?

Vim dar aulas de Português na primeira escola Portuguesa no Nepal, vou ser a segunda professora desde que a escola abriu.

A escola ”Onovato” foi criada com o objectivo de dar bases de Língua Portuguesa aos Nepaleses que vão emigrar para o nosso país, e desta forma facilitar a sua integração na nossa cultura, ajudar na procura de trabalho e ainda aumentar a ligação destes dois países.

Vejo esta escola como uma enorme expansão da nossa língua pelo mundo e sinto orgulho em fazer parte deste projecto.

Deixo-vos com algumas fotografias: