Já estava decidido que iria voltar para Portugal à boleia, os voos são caros e terminar esta viagem de uma forma simples e momentânea não faria sentido. Quero voltar para o Natal e quero sentir-me cada vez mais perto de casa a cada boleia que apanhe.
Estou na Polónia e se fosse desde aqui provavelmente não chegaria a tempo e para além disso está a nevar e aguentar tanto tempo parada iria ser um martírio.
Porque não voltar ao país onde esta viagem começou e desta vez voltar para casa?
E aqui estou eu num autocarro desde as 2 da tarde, são agora 20h só chego às 9h da manhã.
20h de viagem, fazem-me lembrar as longas viagens de autocarro na Ásia só que pela janela vejo neve e ao meu lado não tenho ninguém. Atrás está um senhor que se apoderou dos 4 lugares e dorme e ressona tranquilamente. ”sabe-la toda”
Sempre achei as viagens de autocarro nostálgicas, afinal de contas durante a infância e os tempos de escola o autocarro significava visitas de estudo, ATL de verão, campos de férias, idas a torneios, visitas aos avós, viagens a Andorra. E como me lembro da disputa de lugares. De quem fica ao pé de quem, e que na ida vou com aquele mas na volta vou com o outro. Os mais rebeldes iam para trás, gritavam e cantavam. As meninas nos lugares da frente, umas conversavam outras fechavam-se no seu mundo com os fones no ouvido. Eu obviamente ia para os lugares de trás, não por ser rebelde, mas por adorar cantar e rir-me com as parvoíces dos outros, e das minhas, claro.
Hoje para mim o autocarro é um lugar de reflexão enquanto estou sozinha não me posso encostar ao ombro do lado, por isso o vidro torna-se uma excelente almofada. Ninguém parece querer falar então também eu ponho os fones e perco-me em pensamentos.
Olho para o vidro e vejo-me, a escrever e a recordar esta viagem, a dar inicio ao regresso a casa, à família e aos amigos. Um misto de emoções do querer voltar e dar inicio a outra etapa que está para vir e por outro lado despedir-me desta viagem que tão bem me fez.
A Rosa espera-me na Suíça, não sei se se lembram da viagem de Portugal para Genebra, a minha companheira do lado com a qual falei a viagem toda. Sim, vou ter com ela não podia deixar que esta conexão ficasse por ali. E é incrível como estas coisas acontecem.
Fomos parados antes de passar a fronteira.
Entraram 2 polícias polacos com cara cerrada, pediram os passaportes. No final do autocarro (aí está os rebeldes) estavam a demorar imenso tempo, de repente oiço uma troca de palavras em tom mais elevado, pumba, algemaram um e revistaram um chinês de alto a baixo mas lá se safou.
Aqui tive dificuldades em integrar-me com as pessoas, são frias e não esboçam sorrisos. Só me conseguia rir com a cara de má com que fui atendida inúmeras vezes, a brutalidade com que respondem é engraçada. A mãe e irmã ficaram chocadas, mas o troque está em não levar a mal e rir, já a minha mãe dizia ”O meu rico Portugal”
Não esqueço a história deste país e deste povo, e acredito que parte destas atitudes vêm do seu passado.
06/12/2016
Marta Durán
es linda aventureira amiga rebelde desenrascada sempre fostes beijinhos