Escrita de um Domingo chuvoso

“O Tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o Tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.”

O regresso já se vê longínquo, já perdi a conta dos dias, penso que aquando a entrada numa vida rotineira os dias passam mais rápido.

E num estalar de dedos já se passou 1 mês e uns dias, foi um regresso inesperado. Há decisões que temos que tomar na vida antes que seja tarde demais, as coisas nos Estados Unidos não correram como planeado.  Pintei uma ideia diferente, idealizava uma vida diferente talvez tal como toda a gente fui enganada pelos filmes de Hollywood, pelas series ou mesmo pelo passa a palavra.

A verdade é que cada experiência é vivida de forma diferente e eu após quase 2 meses decidi antecipar o voo porque não me sentia em casa e não me identificava com o ambiente em redor. Optei por fazer uma mini viagem ao Canadá como partilhei no blog e conheci pessoas fantásticas e quando há sítios assim onde te identificas a esperança renasce mas estava na altura de voltar.

Nesta passagem pelos Estados Unidos só posso agradecer o apoio constante da Sandra e do Carlos que foram a minha família durante o curto espaço de tempo que lá estive, receberam-me como uma filha e não há palavras para agradecer o que fizeram por mim.

A vida é feita de decisões difíceis de tomar mas por vezes temos que saber pensar no que será melhor para nós e eu sentia que voltar era o que me iria preencher da maneira que precisava, mas era uma luta mental devido ao investimento já feito.

O pensamento foi o dinheiro vai e volta a minha vida não e muito menos o meu bem-estar.

E cá estou eu, feliz com a minha decisão.

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Na semana a seguir ao meu regresso comecei logo a trabalhar nos tuk tuk onde já trabalhava antes de partir em viagem. Estou em fase de angariação de fundos, gosto de trabalhar em Lisboa e com turistas. Vim com um pensamento de os fazer sentir em casa e trata-los como eu fui tratada. Enquanto trabalho no turismo consigo constantemente falar sobre viagem, sobre as minhas viagens e de certa forma viajar através dos meus clientes que vêm de todos os lados do mundo, viajo através do olhar deles sobre a vida e sobre as opiniões que muitas vezes diferem das minhas.

Tenho planos, demasiados. Muitas ideias que de momento não estou a conseguir fazer acontecer mas é um processo, já queria ter escrito há mais tempo mas a coragem de publicar este regresso estava distante. Quero manter este blog e a página do facebook com tempo tornar numa coisa mais assídua mesmo não estando em viagem e tentar sempre transmitir alguns valores e a minha visão sobre a vida e sobre as viagens.

Por agora encontram-me em Lisboa.

26.03.2017

Marta Durán

Somos capazes de viajar sozinhas.

És tão corajosa. Se fosses homem diria que tens t****, eu não era capaz de o fazer.

Nem eu sabia que era capaz, até ir.

Andar à boleia não é fácil e depende da confiança que depositas em ti mesma. Há diversos factores, o país e o dia se estás num dia sim ou dia não. Mas vou sempre, mesmo estando ‘’borrada’’ por dentro. Do lado de fora sou corajosa, sempre. É a capa constante. Corajosa, parva e está sempre tudo bem. Toda a gente tem uma capa. Não é? Sejamos verdadeiros ao menos para as pessoas que nos rodeiam, que nos amam essas é que nunca te julgaram. E acima de tudo merecem o teu verdadeiro eu.

Sinto-me uma mulher determinada e adoro andar à boleia. Andar à boleia sozinha torna-me mais forte mentalmente, não apenas corajosa, há situações que realmente me assustam e já me aconteceu, cheguei a casa naquele dia e chorei que nem um bebé, sozinha. Mas são estas situações que me tornam mais forte ao longo do caminho, e apercebo-me também que nem tudo são rosas.

Sou confiante, confio em mim, sou forte. Também acredito que pensamentos bons trazem coisas boas. E que depois da tempestade vem a bonança.

Porque é que estou sozinha? Onde é que está o teu namorado/a? O teu/tua amigo/a?

Quantas vezes me perguntaram isto. Inúmeras.

Mas eu preciso de alguém para respirar? Eu nunca estou sozinha na verdade. Em viagem tenho os condutores, na rua os locais que vêm falar comigo, pela noite estou no couchsurfing ou num hostel. Lá de vez em quando bate aquele sentimento de solidão e aquelas questões do que faço aqui? Para quê andar desta forma? Quero voltar. Tenho saudades. Mas depois volto a mim.

Viajar sozinha dá-nos a liberdade de escolher o caminho, fazer o que bem me apetecer sem dar explicações a ninguém. Ser totalmente livre. Arrecadar com as consequências e com as coisas boas sem culpar ninguém. Sou eu e apenas eu.
Como estou sozinha, há constantemente a vontade das pessoas me alimentarem. Eu aceito, óbvio. Oferecem tudo o que têm no carro. E a constante pergunta se preciso de alguma coisa. Chegam a oferecer dinheiro e até mesmo casa para ficar. É incrível e destas coisas acontecem mais se estou sozinha.

Viajar a dois?

Pode ser incrível depende de com quem viajas. Unha com carne funciona bem. A mim funcionou. E a melhor viagem que fiz até hoje foi a dois, a duas neste caso.

Tudo se resume a seres verdadeiro, ao saber ouvir e acima de tudo confiar.

Afinal de contas pergunto-me, pergunto-vos.

Estou viva?

Estás viva?

Penso que raio de pergunta. Sim estou, respiro, vejo e sinto.

Mas pensa bem lá no fundo, sentes-te viva?O que realmente importa na vida? O que faz com que todos os dias te levantes da cama?

Questiona-te profundamente sobre o que será mais importante na tua vida. Qualidade ou quantidade?

Tenho a minha resposta definida. Qualidade. Tudo o que é vivido intensamente, com riscos. Tudo o que olhas para trás e deixa saudade. Quer dizer que foi real. Foi vivido. Mas agora não olhes para trás. Cria novas memórias, novas experiências qualitativas enquanto o tempo te permitir.

Nesta fase olho para a minha vida como um livro, onde ando constantemente a fechar capítulos e abrir novos, se tiver saudades relei-o, se me esquecer, recordo, acima de tudo não repetir os mesmos erros. Cada dia que passa escrevemos uma página nova neste livro da vida tão vasto, sem saber o final e não vale fazer batota e passar as páginas sem as ler, sem as viver. Não tenhas pressa. Não tenho pressa.

Cada fase a seu tempo.

Hoje, aqui sozinha no quarto, num quarto recente onde nem as próprias paredes ainda me conhecem desabafo, e escrevo com esperança para o futuro. Um futuro onde acima de tudo me manterei fiel a mim mesma, verdadeira. Nada mais importa senão a verdade perante o eu e para com os outros que me rodeiam e merecem saber a verdadeira Marta.

Marta Durán

21/01/2017

 

Atiro-me de cabeça

Vou, vou sempre e sem pensar. Vá, penso mas pouco.

Atiro-me de cabeça e se assim não fosse não teria piada.

Medo? Não, medo p’ra quê?  O medo não me assiste já dizia o outro.

E a verdade é que a mim não me assiste. Quem não arrisca não petisca e quem arrisca demasiado às vezes também se lixa. Mas vale sempre a pena tentar, o não é garantido.

O medo é psicológico, o medo está entranhado desde o primeiro segundo de vida. O medo está na sociedade, na cabeça, nesta caixa interna a que se dá o nome de cérebro. Tem cuidado.

Eu tenho. Juro que tenho. E tenho cabeça. Às vezes.

Obrigada Capicua.

 

Cá estou. Sem pensar. Vá penso um pouco.

Objectivos?

Ganhar dinheiro para futuras viagens;

Viver na América;

Conhecer outras culturas;

Procurar ser feliz; ??? Sim, esta está sempre presente. A felicidade é uma busca constante.

Já fez 1 semana que cheguei, trabalho ainda nem vê-lo mas não se pode ter tudo num estalar de dedos. Tenho procurado e estou confiante que em breve vai aparecer.

No entanto, já tive oportunidade de andar por Nova Iorque sozinha a absorver toda a mística criada pelos filmes e sabem, é tal e qual. O fumo sai mesmo pelas tampas de esgoto, as pessoas vestem-se como querem, há bonecos pelas ruas, a Times Square é grandiosa, as pessoas andam com os copos de café do Starbucks na mão, há táxis sem conta e os condutores são indianos e outras tantas coisas que ainda estou para descobrir.

Onde estou a viver, bem aqui é uma mistura de Portugueses, Hispanos, Brasileiros e poucos Americanos. A rua principal é Portuguesa, as lojas são portuguesas, o café é português e na rua ouve-se português, espanhol e um inglês de guetto. Aqui não vou sentir falta de um cafézinho com pastel de nata.

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No outro dia fui correr para conhecer o bairro e senti-me uma verdadeira ”nigga” a viver num filme americano. Porque de facto haviam pretos encostados a fumar ganzas e de pé encostado à parede e haviam outros tantos a jogar basquetebol. Achava que estava dentro de um ecrã naquele momento.

Continuei a correr e a sorrir para dentro. Talvez estivesse mesmo com cara de parva.

Estas foram as primeiras impressões! Vamos lá ver como vai correr a 2ª semana!img_0126fullsizerender

Marta Durán

22.01.2017

Até já.

1 dia. Parece que andei a fazer a contagem decrescente esta semana para partir. Aproveitei a semana o melhor que pude. Passeei pelos cantos favoritos da minha cidade, comi todos os deliciosos bolos da Confeitaria Nacional, estive com todos os meus amigos e apercebo-me a sorte que tenho por os ter na minha vida, com a mãe e com a mana.

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Já estou habituada a partir, mas também é ritual 2 dias antes ficar ansiosa e andar às voltas na cama até adormecer. A mala está aberta, ainda vazia, amanhã faço as malas. Tudo para a última. Sim esta sou eu. E vou-me esquecer de metade das coisas. Não faz mal.

Há 3 meses desabafava que ia embora, bem fui e voltei. E vou de novo. Desta vez para mais longe, outro continente, América, mas com mais planos. Estarei 3 meses, mais não posso porque se não o Trump expulsa-me de imediato.

O que vou fazer?

Bem, na verdade não sei bem. Ganhar uns trocos. Ganhar experiência. Viver o American Dream? Ah ah ah.

Lembro-me que tinha o sonho de ir a Nova Iorque, sair do avião a ouvir Alicia Keys ‘’Impire State of Mind’’, o sonho foi desaparecendo deixei de me interessar por esta cidade, apenas curiosidade. Fascina-me outro tipo de paisagens. Quem me dissesse que em Janeiro de 2017 estaria a pisar a cidade que nunca dorme, não acreditaria. Oportunidades. Aceito.

Amanhã é dia de Até já’s, de fazer malas, de abraços e de correrias. Eu vou, mas volto, volto sempre.

Darei novidades em breve, provavelmente já em terras Americanas.

Obrigada a todos que me acompanham nestas aventuras, chegar e ver que ‘’viveram’’ isto comigo foi, de certa forma especial.

Até já.

Marta Durán

11.01.17

1 week to go

 

E lá vou eu…. eu bem disse que em breve haveriam novidades!

Sexta-feira 13, mas de azar nada tem.

Está na hora de ir, mais uma vez. 

Foram 4 semanas em casa de afazeres e desafazeres.

E agora falo-vos de oportunidades que aparecem, por pessoas certas, na hora certa e no sítio certo.

A cidade que nunca dorme, diz-vos alguma coisa?

Claro que diz. Não é para aí que vou mas para bem perto.

No meio de 7 bilhões de habitantes neste planeta terra há por aí muitos malfeitores, se há. Mas por outro lado, também há pessoas incríveis que insistem em aparecer e felizmente estes apareceram na minha vida.

Foi uma oportunidade que me foi dada, e oportunidades destas não se podem deixar escapar, verdade?  Quantas vezes já pensaram e se …. não quero ter esses e se… na minha vida.

Vão ser mais 3 meses… e pouco mais sei, poucas expectativas.

O Trump que se prepare para a minha chegada!

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Hoje tirei o dia para mim. E sabe tão bem o silêncio dos meus pensamentos.

Estou pronta, mais uma volta mais uma viagem! 

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06/01/2017

Marta Durán

 

Adeus 2016

Escrevo sobre 2016 com lágrimas nos olhos e um sorriso estampado na cara, foram 366 dias intensos, e sabem que mais? Passaram num ápice.

O ano começou longe de casa no Myanmar, a fazer um direto para o programa Portugueses pelo mundo na passagem de ano na RTP 1, seguiu-se uma viagem de 2 meses pelo continente Asiático. Não poderia ter começado de melhor maneira… e adivinhava-se um ano em cheio.

Fui responsável do GASTagus (grupo de voluntariado) no polo ISEG, e passei todas as Segundas e Quartas-feiras com pessoas fantásticas, sim vocês.

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Fui para S.Vicente, Cabo Verde para as Aldeias SOS e conheci o Mário, o Still, o Edson, o Kleiton, o Kleidir, o Walla, o Leandro, o Alex, o Nitó, a Alicia e criei uma família improvável.

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Passei o meu aniversário na costa vicentina e atulhei o carro na areia, teve que ser puxado por um trator. Trabalhei nos tuk tuk em Lisboa e juntei dinheiro para as minhas viagens. Fiz os caminhos de Santiago.

Estive em 3 continentes diferentes e visitei 19 países, apanhei 10 aviões, mais de 80 boleias, ouvi mais de 10 idiomas e palmilhei km sem conta.

Europa, Ásia e África

Myanmar, China, Tailândia, Cambodja, Macau, Hong Kong, Malásia, Singapura, Cabo Verde, Espanha, França, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Eslóvenia, Austria, Hungria, República Checa e Polónia.

Criei um rio de lágrimas em todas as despedidas e momentos difíceis, mas contagiei tantas pessoas com o meu sorriso.

2016 não foram só rosas. O mundo perdeu a Mimi a minha gatinha de 12 anos e perdeu o Carlos, hoje dia 31/12 era o seu aniversário.

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Licenciei-me;

Viajei sozinha;

Aprendi a gostar de ler;

Escrevi este blog;

Deixei de comer carne e comecei a gostar de legumes;

Agradeço a 2016 e a todos que me acompanharam, o meu ano foi feito de pessoas e de experiências incríveis.

” A felicidade só é real quando partilhada” – Into the Wild

Agradeço às oportunidades que me foram dadas, aos desafios, às tristezas e às felicidades.

2017?  Venha ele, também a começar da melhor maneira a viajar.

Para este 2017 não crio expectativas não sei o que me espera. Só desejo paz interior, continuar a viajar, saúde, amor, conhecer pessoas que me inspirem e inspirar quem me rodeia.

Ser Feliz e Acreditar é o mote para este novo ano.

Para todos vocês não se esqueçam que têm mais 365 dias para se realizarem, para serem felizes. O dia de amanhã será apenas mais um dia mas façam-no

”O primeiro dia do resto das vossas vidas”

Em breve haverá novidades,

Marta Durán

31/12/2016

 

Olá Lisboa!

Desde Manzanares até Estremoz

Após 2 boleias cheguei a um posto de descanso em Cidade Real onde fui em busca de camiões de matrícula Portuguesa!

Eis que encontrei um, e que grande sorte… O Sr. João era para ter saído às 9h mas decidiu partir mais tarde, na verdade ele ficou à minha espera!

Foram 4h e muito de viagem com o Sr. João, muita conversa, muito alcatrão e buracos. As estradas nacionais espanholas estão numa lástima!

Estávamos ambos ansiosos por chegar a território nacional para ouvir a RFM e beber um belo café Português já que o Espanhol é apenas água suja! Entrámos em grande a ouvir Quim Barreiros.

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Obrigada Sr. João pela simpatia e pela enorme ajuda! Até uma próxima!

Parei em Estremoz de onde vêm parte das minhas raízes, a minha mãe nasceu cá e os meus falecidos avós viveram aqui. É um lugar muito especial no meu coração e fez-me todo o sentido parar aqui antes de voltar a casa.

Na verdade, acho que por meros segundos acreditava que iria bater à porta e eles estariam lá de braços abertos e com um sorriso para me receber, acredito sempre. Mal cheguei fui visita-los, dói olhar para uma campa e para 2 fotografias. Como é que é possível? O tempo passa mas não os apaga, não atenua a dor. Falei com eles desabafei, chorei e o tempo que ali estive foi aconchegante . Era eu e eles. A relembrar momentos.

”Vejam como estou crescida, vejam como já venho sozinha visitar-vos.”

Fiz o caminho que fazia sempre com a avó até casa, parei nos mesmos sítios, os cheiros são os mesmos, está tudo igual…

Não tinha onde dormir, mas já tinha pensado. Fui bater à porta da vizinha Odete, quando era criança passei muitas tardes a brincar com o seu cão bolinhas e sabia que não me iria deixar na rua.

Bati, abriu a porta. Abracei-a e desatei a chorar. É difícil, é tão difícil voltar aqui, a esta rua e não os ter…

Odete, acabei de chegar de 2 meses de viagem posso ficar aqui a dormir?

Claro minha filha

E assim foi, uma última dormida antes de chegar a casa. Recarreguei energias e enchi a barriguinha com uma bela sopinha e pãozinho alentejano, já estava em casa.

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Pela manhã seguinte já estava a pé às 7h, e às 9h estava na estrada a pedir boleia.

Fui até à Nacional 4 e esperei.

A primeira boleia, foi o André das Pedras que vive em Montemor! Deixou-me na entrada da auto-estrada para Lisboa, um rapaz muito simpático.

Esperei nem 10 minutos e pára um camião que ia para Lisboa, o camionista era Espanhol, ri-me durante a viagem toda ainda parámos em Vendas Novas e pagou-me um cafézinho e um pastel de nata. Deixou-me na bomba antes da ponte Vasco da Gama, aí apanhei uma carrinha que me deixou na 2ª circular e depois para terminar um senhor Nigeriano que me deixou em Alfragide.

Já estava em Lisboa, mas que estranho. De Alfragide fui até casa a pé, 1 hora a andar já se torna fácil… Chegar a casa e não ter chave! O que vale é que tenho sempre amigos para me ajudarem.

Bem e agora estou de volta, está tudo igual… ainda não aterrei.

Perguntam-me agora se vou continuar a escrever? Sim, continuarei em breve há mais novidades e sempre que me recordar de alguma aventura ou algum desabafo é aqui que me vou expressar.

Feliz Natal e Boas Festas

18/12/2016

Marta Durán

A minha mochila

Agarro-te pela alça e com impulso atiro-te para as minhas costas, passo o braço esquerdo pela outra alça e ajusto-te puxando as fitas.

Um click em baixo, outro click em cima, mais uns puxões nas fitas e estou pronta. Este movimento constante e repetivel inúmeras vezes.

As primeiras vezes são dolorosas, estás pesada e não te moldas, é um farto andar contigo.

Click em baixo, click em cima, tirar o braço esquerdo da alça, atiro-te para o chão. Desculpa. Relaxar os ombros e suspirar. Sinto-me leve.

Hora de ir. O movimento é repetivel. ‘’estás mais leve’’ penso.

Caminho km e km contigo às costas e tu levas a minha bagagem. É justo. Torna-se prazeroso andar contigo, quando não te tenho sinto-me incompleta. És sinal de liberdade, de aventura, de descoberta, de encontros, de noites diferentes, de novas pessoas, de falta de rotina e de desculpas para tudo.

Sabes, quando te tenho posso ‘’acampar’’ onde quiser, carregar o telemóvel, utilizar o wifi, comer sem cuidados, ir ao WC lavar os dentes e a cara sem que ninguém me diga nada, posso ficar horas nesta rotina e apenas consumir o que de mais barata houver à venda.

Estás suja, imunda. Não faz mal, não me importo, é sinal de uso e de lugares.

És linda sabias? Tenho um grande amor por ti, acompanhastes-me em todas as viagens mais importantes da minha vida e nunca me deixas-te ficar mal.

Obrigada Quechua, por aí há milhares iguais a ti mas para mim és única, minha e perfeita.

13/12/2016

Marta Durán

Estou a chegar…

Não tenho escrito, estive doente. Um género de gripe com aqueles calafrios e febres estranhas. Uma enorme vontade de dormir pela noite.

Desde a última vez que escrevi já palmilhei alguns km. Após a chegada a Zurich no tal autocarro de 20h apanhei uma boleia direta para Payern, sorte, muita sorte. Estava a andar pela rua sem bateria no telemovel e mostrei a um senhor, que estava a carregar uma carrinha com vinhos um placar a dizer Bern. Vóila era para onde ele ia.

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Mas que senhor. Sapatos xpto e bem vestido. Uma mistura de francês com italiano, tinha acabado de comprar 200 garrafas de vinho num leilão (e o pagamento acabou com o plafon do cartão) e ia a Bern buscar uns móveis vintage que tinha encomendado e eu fui com ele! Tivemos que ir ao centro da cidade para ir ao banco levantar o dinheiro, fez-me uma visita guiada a Bern ofereceu me um cappuccino e só depois fomos buscar a mobília. De facto vintage, não pagava nem metade do que ele pagou pela mobília mas gostos não se discutem! Depois das compras estarem feitas teve a maior gentileza de me deixar em Payern mesmo não indo para lá ! Merci !

Estive 2 dias na Suiça em Payern a recarregar energias e a ser tratada como uma princesa pela Rosa e o Rafael, não me sentia a 100% e aqui foi o melhor sítio para descansar. Há relações que se estabelecem que é difícil explicar por palavras, mas também não é preciso. Nestes 2 dias fomos dançar kizomba e falámos de tudo e mais alguma coisa.

A Rosa é uma amiga muito especial, e desejo-lhe o melhor do mundo, porque merece. Estava destinado que nos haveríamos de encontrar, os lugares do avião não foram escolhidos ao acaso tenho a certeza. Até já Rosa e um abraço apertado dos nossos.

(Infelizmente não tirámos nenhuma fotografia mas está na memória)

Parti meia doente mas decidida a chegar a Lisboa à boleia. Quem me conhece sabe que quando meto uma ideia na cabeça tenho que a concretizar. Tenho que acabar o que comecei, não posso deixar a meio e não é uma gripezinha que me vai parar.

De Payern fui para Valence, Franca. Foram 6 boleias e um dia estafante, o pior de todos até hoje. Cheguei ainda pior a casa e desmotivada para voltar, aliás só queria voltar. Estar doente ”sozinha” não é fácil, mas aguenta-se, há de passar ! Em Valence fiquei com o Maxime e a namorada de Hong Kong, se acham que eu sou aventureira estes dois… o Maxime esteve a viajar durante 1 ano e meio só à boleia, desde a Europa até à Ásia, passou pelo médio oriente, trabalhou no irão , apanhou boleias na China e até que chegou a Hong Kong e apaixonou-se, ambos viajaram durante uns meses até que ela engravidou, tinham voltado há 3 semanas para ter o bebé.

Eram 22h e já estava deitada, 39 de febre precisava de dormir.

Pela manhã seguinte fomos passear por Valence e conhecer esta pequena cidade. Deixou-me no melhor sítio para pedir boleia. 30 min e pára o 1 carro! 2 boleias até Montpellier.

Aqui vim para casa de Natou nasceu em Dakar, esta Mulher é incrivel, recebeu-me com uma energia incrivel e claro um pratão de comida, é Africana…

Fomos passear as duas, ela com a sua genica e eu mais para lá do que para cá, mas só me conseguia rir com as suas parvoíces.

À noite voltei a sentir-me mal, mas nada que o seu maravilhoso chá e muita comida Africana me curasse.

A mamã Natou tratou bem de mim e tive pena de apenas ficar com ela 1 noite! Fui-me deitar cedo para seguir à boleia para Barcelona.

Mérci e vêmo-nos em Dakar !

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Já estou em Barcelona após 3 boleias!

Uma senhora que já fez missões humanitárias de curta duração e o próximo destino era Cambodja.

Um casal Espanhol que adorava viajar e fotografar já tinham percorrido meio mundo também

Um casal jovem com 2 filhos pequenos, fui no meio das cadeiras mega apertada, viemos a cantar a viagem toda! 

No meio disto tudo perdi a go pro, fiquei triste por todos os videos que lá tinha, ia fazer uma montagem final e não tinha tudo guardado. Enfim, já não esperava outra coisa de mim tinha que perder algo não é? Ou não me chamava Marta.

Ia apenas pernoitar, mas decidi ficar um dia, passear e escrever, já cá tinha estado mas senti-me bem ao pé da praia, amanhã sigo viagem!

Já ouvi dizer que boleias em Espanha não são fáceis vamos lá ver…

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12/12/2016

Marta Durán

20h de autocarro

Já estava decidido que iria voltar para Portugal à boleia, os voos são caros e terminar esta viagem de uma forma simples e momentânea não faria sentido. Quero voltar para o Natal e quero sentir-me cada vez mais perto de casa a cada boleia que apanhe.

Estou na Polónia e se fosse desde aqui provavelmente não chegaria a tempo e para além disso está a nevar e aguentar tanto tempo parada iria ser um martírio.

Porque não voltar ao país onde esta viagem começou e desta vez voltar para casa?

E aqui estou eu num autocarro desde as 2 da tarde, são agora 20h só chego às 9h da manhã.

20h de viagem, fazem-me lembrar as longas viagens de autocarro na Ásia só que pela janela vejo neve e ao meu lado não tenho ninguém. Atrás está um senhor que se apoderou dos 4 lugares e dorme e ressona tranquilamente. ”sabe-la toda”

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Sempre achei as viagens de autocarro nostálgicas, afinal de contas durante a infância e os tempos de escola o autocarro significava visitas de estudo, ATL de verão, campos de férias, idas a torneios, visitas aos avós, viagens a Andorra. E como me lembro da disputa de lugares. De quem fica ao pé de quem, e que na ida vou com aquele mas na volta vou com o outro. Os mais rebeldes iam para trás, gritavam e cantavam. As meninas nos lugares da frente, umas conversavam outras fechavam-se no seu mundo com os fones no ouvido. Eu obviamente ia para os lugares de trás, não por ser rebelde, mas por adorar cantar e rir-me com as parvoíces dos outros, e das minhas, claro.

Hoje para mim o autocarro é um lugar de reflexão enquanto estou sozinha não me posso encostar ao ombro do lado, por isso o vidro torna-se uma excelente almofada. Ninguém parece querer falar então também eu ponho os fones e perco-me em pensamentos.

Olho para o vidro e vejo-me, a escrever e a recordar esta viagem, a dar inicio ao regresso a casa, à família e aos amigos. Um misto de emoções do querer voltar e dar inicio a outra etapa que está para vir e por outro lado despedir-me desta viagem que tão bem me fez.

A Rosa espera-me na Suíça, não sei se se lembram da viagem de Portugal para Genebra, a minha companheira do lado com a qual falei a viagem toda. Sim, vou ter com ela não podia deixar que esta conexão ficasse por ali. E é incrível como estas coisas acontecem.

Fomos parados antes de passar a fronteira.

Entraram 2 polícias polacos com cara cerrada, pediram os passaportes. No final do autocarro (aí está os rebeldes) estavam a demorar imenso tempo, de repente oiço uma troca de palavras em tom mais elevado, pumba, algemaram um e revistaram um chinês de alto a baixo mas lá se safou.

Aqui tive dificuldades em integrar-me com as pessoas, são frias e não esboçam sorrisos. Só me conseguia rir com a cara de má com que fui atendida inúmeras vezes, a brutalidade com que respondem é engraçada. A mãe e irmã ficaram chocadas, mas o troque está em não levar a mal e rir, já a minha mãe dizia ”O meu rico Portugal”

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Não esqueço a história deste país e deste povo, e acredito que parte destas atitudes vêm do seu passado.

06/12/2016

Marta Durán