”Este post no blog é em honra de todos os tibetanos que morreram em prol de uma causa. Se temos voz para gritar, se temos mãos para escrever, se temos coragem, temos que Denunciar todos os arbítrios.”
Entrar no estado de Himachal Pradesh é como entrar noutro país, o destino foi Dharamshala, onde actualmente reside a sua santidade o 14º Dalai Lama e a maior comunidade de refugiados Tibetanos. Conhecida como ”a pequena Lhasa” em referência à capital do Tibet. É um lugar simples e pacífico como não poderia deixar de ser.
Tudo em redor era Budista, foi regressar de novo às montanhas e sentir-me em paz é estranho como a energia das montanhas se reflete tanto no meu comportamento. (Não fosse eu tatuar uma montanha)
Fui visitar o museu Tibetano e descobrir mais sobre a história deste país, agora governado pela China. É chocante como a invasão da Chinesa obrigou a milhares de Tibetanos a fugirem das suas casas e refugiarem-se em países vizinhos que lhes abriram as portas como a India, o Nepal e o Butão e tudo isto se passou à meros 50 anos e em realidade hoje em dia ainda acontece.
Viviam em paz e harmonia, no meio das montanhas e tudo foi destruído a força das tropas chinesas mataram milhares de inocentes, destruíram património, capturaram monges e fecharam este que era um paraíso do universo.
A Índia abriu portas e no estado de Himachal Pradesh actualmente vivem milhares de refugiados. Estar ali é em parte estar no Tibete, aquelas pessoas viram-se obrigadas a fugir do seu próprio país senão acabariam presas à ditadura chinesa.
Amritsar está situado no estado de Punjab e a meros 30 km do Paquistão, é conhecido pelo golden temple e é um sitio de peregrinação para a religião Sikh.
Ao entrar nos arredores do templo tenho um choque, parece que não estou na Índia, parece que por momentos saí da sujidade, está tudo limpo, há caixotes do lixo por todo o lado, é tudo moderno e não se vê pobreza.
Os Sikh’s são facilmente distinguidos pois têm 5 adereços que estão sempre presentes, um turbante a cobrir o cabelo, uma bracelete de prata, calções de algodão, uma espada e um pente de madeira.
São amorosos e vivem em paz e isso sente-se ao entrar no templo, descalça e de cabelo coberto observei o redor e a energia era diferente, a música de fundo era tocada ao vivo dentro do templo e era intensa e profunda.
Pela noite tudo se tornava ainda mais mágico, o dourado brilhava e refletia no lago sagrado. Entrei e sentei-me no chão a ouvir, a meditar e a refletir sobre o meu ano e as lágrimas vieram-me aos olhos, foi um ano demasiado intenso e demasiado vivido.
A Dormida
Fiquei a dormir nas instalações do templo, faz parte dos valores éticos da religião Sikh oferecer estadia e alimentação a todos os que peçam, foi uma experiência incrível, o espaço onde fiquei era reservado para estrangeiros, os outros espaços estavam lotados e haviam pessoas a dormir por todos os lados.
O refeitório fica em frente do templo e funciona 24h através de voluntariado, centenas de pessoas ajudam e o processo já estava esquematizado e havendo pessoas distribuídas por vários postos. Primeiro apanhávamos o prato, depois a taça e por fim a colher, dirigíamo-nos à sala e comia-se por turnos, assim que as portas se abriam sentávamo-nos no chão com o prato. Iam passando os voluntários com a panela e servindo, Dal, Curry, Leite Doce e Roti (Era só levantar as mãos e caía um roti do céu)
A comida era deliciosa, era cozinhada com amor, estava fascinada com tanta organização, com tanta partilha e dedicação de todos.
Fronteira com o Paquistão
A não perder é a troca do guarda e a recolha da bandeira de ambas as fronteiras. É como assistir a um jogo de futebol, algo que não esperava!
É uma guerra dançante entre os guardas da Índia e os guardas do Paquistão. A plateia vibra, grita, canta e dança! Está vestida a rigor tal como se estivesse a assistir a um jogo da seleção nacional. Os guardas pareciam uns galos flexíveis que corriam e levantavam a perna o máximo que conseguiam.
Só me conseguia rir e questionar-me isto é possível? e mais uma vez respondi-me:
”Tudo é possível na Índia”
Ao mesmo tempo era chocante estar a escassos metros do Paquistão que está em constante conflito com a India. Foi uma experiência cómica e inesperada e merece ser vista porque ”contado ninguém acredita”
Saio de Amritsar muito feliz e uma excelente impressão dos Sikh.
A cidade dos lagos também chamada de Veneza da Índia, uma pequena cidade com arte espalhada pelas ruas e um palácio que tardou 400 anos a ser construído. É um lugar onde os apaixonados expressam o seu amor ao caminhar pelo lago ou em passeios de barco.
O pôr do sol aquece a alma e o melhor sítio para observá-lo é à beira do lago a ver os barcos passarem e as andorinhas em conjunto a embelezarem a paisagem.
É uma mistura de paz com a confusão das motas sendo que não comparada às grandes cidades.
Aqui tive a sorte de encontrar um grupo fantástico de Portugueses onde estava o comediante Rui Unas e convidaram-me a visitar com eles o palácio e ainda para almoçar.
Encontrar portugueses em viagem é um prazer, sabe sempre bem falar a nossa língua e trocar impressões, tenho a agradecer a forma de como fui acolhida pelo grupo e ainda ao seu líder de viajem João que me integrou e me proporcionou um dia diferente nesta viagem.
Jaisalmer
Após 12h de viagem num autocarro nocturno chegámos e fomos logo abordadas ainda no autocarro.
”Esta é a paragem final, têm direito a um transfer até ao hotel”
Achei demasiado estranho e sabia que algo não batia bem, entrei no carro com a María e logo aí começou a venda, de tours de camelo e para ficarmos no seu hotel.
”Tenho um hotel com excelentes condições e barato se quiserem podem ir ver.”
e
”Estão interessadas na tour ao deserto? Excelente serviço, barato e com direito a tudo”
Resumindo, a María foi ver os quartos e explicar que já tínhamos reserva noutro sítio, mas que se não gostássemos voltaríamos ao seu hotel (algo que nunca iria acontecer), logo em seguida viu que de nós não levava nada e deixou-nos à entrada do forte onde se situava o nosso hotel.
Explicámos a situação ao dono no nosso hotel e ele riu-se e até disse para confirmarmos se tínhamos tudo na mala. É frequente este tipo de truque para enganar os turistas, sinceramente desde o primeiro momento apercebi-me que dali não vinha boa coisa e a intenção era apenas tentar angariar clientes.
Aqui na Índia há que estar sempre atento ao redor e não confiar à primeira, por isso já sabem se passarem por Jasailmer e tentarem fazer isto com vocês nem sequer respondam!
Jasailmer começou de pé atrás, mas mesmo assim não deixei de confiar, viajar é isto mesmo confiar nos locais, nos viajantes e nas pessoas que se cruzam comigo.
Estava a chover a potes e resguardei-me debaixo de uma lona tal como outros tantos indianos, dou inicio a uma conversa com um deles.
Conversa para lá conversa para cá e diz-me que precisa de ir carregar o telemóvel porque não tem wifi no trabalho (era dono de uma agência de viagens) e vai de mota para fora do forte. Não senti intenção alguma e fui!
Sorte das sortes uma bela de uma Royal Enfield!
Depois de ir-mos fiquei uma bela hora sentada no seu escritório a beber chai e a falar sobre a vida e os seus negócios! Cada dia que passava na sua barraquinha cumprimentava-o! É bom receber desta maneira porque depois de te tentarem enganar há boas surpresas como esta.
Jasailmer marcou-me pela cor dourada, pelo perder-me entre as ruas do forte e pelas vistas da cidade!
Optei por não fazer o Safari com os camelos porque na verdade este ano já estive no Sahara, este deserto não é tão grandioso, e também ultrapassava o budjet diário.
No topo do monte está o forte de Mehrangarh onde vivia o Maharajá, a cidade está rodeada com grandiosas muralhas que protegiam antigamente dos ataques.
Food Tour:
Chamo-lhe food tour porque perdi-me pelos sabores onde provei as melhores Samosas uma Bread Omelette conhecida por toda a gente e até um Lassi (este não gostei tanto porque era demasiado doce)
Cada cidade é especial à sua maneira, para mim a zona em redor da torre do relógio (centro da cidade) que é uma influência certamente britânica ao seu redor está o mercado onde se vende de tudo e é impossível não me fascinar com tanto movimento e tanta coisa a acontecer.
Depois de andar à boleia, comboio é dos meus transportes preferidos para viajar, e aqui na Índia não tenho dúvidas disso. A rede de comboios é vasta e as cidades estão muito bem interligadas. As horas é que nem sempre são certas (quase nunca) os comboios poderão atrasar-se 1h, 2h, 3h, … 1 dia. Sim é possível. Até agora considero-me sortuda porque só tive um que se atrasou 6h.
Há comboios que cruzam o país e demoram dias e dias.
Opto por fazer as viagens sempre de noite em Sleeper class (a que aconselho a viajarem), é a classe onde vão todos os locais e há camas para passar a noite, não prometo uma noite bem dormida pois há sempre pessoas a sair e a entrar, as janelas não fecham bem e por vezes faz um frio de rachar, se o comboio estiver lotado certamente não encontraram o lugar vazio quando chegarem à vossa cama, pessoas a dormirem no chão.
Para quem gosta de viagens mais confortáveis e seguras poderá sempre optar pelas classes mais altas mas obviamente pagará mais por isso.
Durante uma viagem de comboio:
Através desta janela vejo um mundo tão desconhecido,
As janelas sempre me mostraram outra visão,
Desde a janelas de casa onde observo as pessoas que pela minha rua passam,
Às janelas do autocarro que mostram os flashes das paisagens e das longas estradas de alcatrão,
As janelas do avião, que dão outra perspectiva da paisagem,
E por fim à janela deste comboio onde me encontro, que percorre kilometros de terra pela India e isto faz-me ficar congelada a observar.
Uma janela aberta para o mundo, é o meu observatório preferido.
Pushkar é uma cidade situada no distrito de Ajmer a cerca de 10 km, é um local de peregrinação para Hindus e Sikhs porque diz-se que Lord Brahma, o criador do universo, quando deixou cair da mão a flor de Lotus no vale surgiu o lago sagrado.
É ainda conhecido pela feira de camelos (Pushkar Camel Fair) realizada em Outubro ou Novembro, e leva ao movimento de muitos feirantes de toda a parte do Rajastão. São mais de 50 000 camelos vindos de várias zonas para serem trocados ou vendidos.
Pushkar é sem dúvida um sítio para relaxar, e respirar da confusão do Rajastão, puderam ainda guardar as compras e os souvenirs para aqui pois há imensa variedade e a preços excelentes!
O meu momento preferido em Pushkar foi subir ao Savitri Temple e daí ver um poderoso pôr do sol (Não fosse eu uma coleccionadora de fins de dia)
Jaipur foi a minha entrada no estado do Rajastão, como eu lhe chamo, a terra do Aladdin, o descobrir de um mundo novo. Senti-me a sobrevoar a cidade rosa com o tapete mágico.
Jaipur é a capital do Rajastão e é conhecida como “A cidade rosa”, já que em 1876 o seu marajá (rei de cada estado) mandou pintá-la dessa cor, para a visita do Príncipe de Gales.
Os edifícios são todos avermelhados e com uma grande influência Árabe . As ruas são caóticas e passam todo o tempo a buzinar, ao passear pelos mercados não há vendedor que não me aborde.
É um choque de cores, de sons, de cheiros e de tudo. Um mundo que nunca vi, e estranhamente gosto. Ao final do dia chego de rastos e consumida mas feliz.
Explorar Jaipur foi uma surpresa, especialmente o Monkey Temple e Amber Fort que ao ir sem qualquer expectativa me surpreenderam.
Hawa Mahal
Não entrei no palácio porque era demasiado caro e viajando por largos meses tenho que fazer escolhas, mas tenho a certeza que a fachada da parte de fora era a parte mais bonita do palácio. Tem 953 janelas pequenas e a verdadeira intenção era permitir que as mulheres pudessem observar o dia-a-dia e os festivais sem que pudessem ser vistas, visto que tem que obedecer estritamente ao ‘’purdah’’ (ter a cara tapada).
Monkey temple (Galtaji)
Um templo parado no tempo, construído entre as montanhas de Aravali a 10km Este de Jaipur, conquistado e habitado pelos macacos, faltam-me as palavras para descrever, mas as cores e a mística do lugar captaram a minha atenção. A pesar de ter sido deixado ao abandono e com pouco restauro o templo continua com uma beleza única.
Amber Fort
Este forte fica situado na cidade de Amer, nos aforas de Jaipur, mas merece toda a atenção, construído de pedra arenosa e mármore a sua beleza não vai desiludir também ele construído na cadeia de montanhas de Aravali.
É possível encontrar elefantes que fazem um pequeno circuito em torno do forte, mas eu como protetora dos animais não o fiz e apelo para não o fazerem, para não contribuirem para o mau-estar animal e quando viajem que pratiquem um turismo sustentável, antes de fazerem alguma actividade com a utilização de animais que se informem primeiro em que condição estão os mesmos. Por vezes há actos que valem mais que ‘fotografias ou likes no facebook.
O forte era um conto, foi perder-me pelos labirintos e descobrir os cantinhos mais preciosos.
Turismo sustentável e amigo do animal! Nao ande em animais selvagens por diversao e para a foto!
Bazares e Portadas
Atenção aos viciados em compras por aqui ”é tudo 100 rupias!” Aqui fica o aviso para não perderem a cabeça.
As portadas são magnificas e podia estar horas só observa-las.
A confusão de Jaipur encantou e as cores do Rajastão fizeram parar e absorver tudo!
”Ir à India e não ver o Taj Mahal é como ir a Roma e não ver o papa”
Bem, não concordo na totalidade, porque a Índia é muito mais do que este belo mausoléu.
Este é daqueles checks que metemos na nossa lista de ”O que fazer antes de morrer”, nem eu algum dia acreditei que estaria aqui.
O Taj Mahal está situado em Agra, que como cidade não tem nada de interessante a não ser o forte de Agra e a maravilha do mundo.
Eram 6 da manhã e estava pronta para sair do hotel, vou ser sincera estava em pulgas para ir ver o nascer do sol. Parecia uma criança ansiosa para abrir as prendas na meia-noite de Natal.
Entrei e por momentos não acreditava no que via.
”Belisquem-me para ter a certeza que estou aqui”
Colocado ali no meio do caos, um pedaço de ”céu”, paz e serenidade.
Um símbolo de amor e uma história incrível para pôr este mausoléu de pé em 1643, mais de 20 000 trabalhadores e um investimento de 827 milhões de dólares.
Uma simetria incrível e a simplicidade cara,conquistaram-me, digo cara pois a maravilha está incrustada com pedras semipreciosas, tais como o lápis-lazúli entre outras originárias de toda a parte da Ásia.
Por vezes sinto-me a viver um sonho ao qual não quero acordar, ver todas estas belezas, conhecer este mundo que só o via através dos olhos dos outros, e agora são os meus próprios olhos que observam estas maravilhas.
Fiquei perplexa ao visitar o Taj Mahal, e ficaria horas a observá-lo, simetricamente cada ponto, cada canto e cada pedra. A história está escrita e um monumento bastante ”vivido” e eu estou ali, no meio de tantos outros turistas, sinto-me que nem um grão de areia. Que passinho a passinho vai conquistando o seu mundo.
A viajar apaixono-me todos os dias pela vida.
Estes são sentimentos que não se repetem a não ser que os busques de alguma forma. Eu encontro-os a viajar.
Quem está comigo?
A María, vão começar a ouvir falar da María, conhecia no trekking do circuito da Annapurna, após conversas percebemos que íamos as duas sozinhas para a Índia nas mesmas datas. Não me juntaria a qualquer pessoa, mas este ser é a peça do puzzle que por vezes falta ao viajar. Somos muito parecidas, loucas. Loucas pela vida, loucas por viagem e loucas por si só. Ela tem mais juízo, talvez sejam os meus 22 anos e os 27 dela que se completam.
Vive em Barcelona, desde sempre teve a paixão por viajar, começou jovem e quando um dia ninguém a quis acompanhar numa viajem, foi sozinha, e desde então (tal como eu) vai só. Adora dançar, fazer mergulho, Yoga e um café com leite de soja. Já está há 4 meses a viajar e não há data para regressar.
Javi e Alba
Este casal é uma inspiração, deram a volta ao mundo, sim a volta ao mundo. Regressaram em Fevereiro deste ano após 1 ano de viajem, voltaram a trabalhar e tiraram 1 mês para vir à Índia.
Também eles de Barcelona, apaixonados conquistaram um sonho em conjunto, venderam tudo e foram, mostraram a quem não acreditava que é possível conquistar o globo com pouco dinheiro.
A Alba tem um coração mole e um sorriso sempre na cara, preocupada com quem a rodeia e sempre atenta.
O Javi sempre bem disposto e com piadas sempre prontas, gosta de pôr em prática as poucas palavras que sabe em português e até se safa.
Ainda em Varanasi quero partilhar os momentos mais marcantes convosco, ao estar sozinha sou um alvo fácil, quer para os acontecimentos maus mas também para os acontecimentos muito bons, e são estes acontecimentos muito bons que vou partilhar com vocês.
Tive sorte, encontrei-me com uma família de 3 catalães o Quico, a sua filha Sira e o Andreu, tem um espírito de viagem incrível e eram apaixonados por Varanasi, e ensinaram-me alguns dos seus segredos e das suas pessoas como o Babu.
O Babu tem um restaurante ‘‘ Nice Restaurant’‘ e uma Guest House onde fiquei hospedada, é um cozinheiro maravilhoso e as refeições foram todas feitas ali, o típico ”Bom e Barato”.
A relação próxima que Quico tinha com Babu permitiu-me aproximar dele e da sua família, e no dia antes da minha partida fui convidada para o casamento da sobrinha da sua irmã ( Acho que estou a dizer corretamente).
Haverá maneira mais épica de começar uma viagem pela Índia? Já estava apaixonada por tudo o que tinha visto e isto agora? Não sei se lhe chame sorte, não sei se lhe chame entrega, estou a absorver tudo e estas oportunidades deixam-me de sorriso na cara.
Era a recepção do casamento, pois já se tinham casado na semana anterior mas os casamentos Indianos podem durar até 1 semana. Não esperava um espaço tão grande, nem tantas pessoas, eram mais de 1000 pessoas! Uma variedade de comida incrível e deliciosa, no meio de tanta gente sentia-me uma indiana disfarçada, a comer com as mãos, a passar despercebida no meio de tanta cor, por vezes olhavam-me e sorriam timidamente.
Toda a preparação foi incrível, vestiram-me um sari (o vestido indiano), maquilharam-me e transformaram-me numa indiana.
Experiências de mergulhar na loucura pura do país não surgem todos os dias por isso aproveitei este momento como sei.
Outro momento que me marcou foi ter conhecido Shukdev, já tenho falado várias vezes no blog que utilizo bastante a plataforma couchsurfing e foi aqui que o conheci.
Levou-me de mota pela confusão das ruas de Varanasi, tudo se passava, a buzinadelas, as vacas a cruzarem-se pelo caminho, os tuk tuk que não têm regras e até pessoas a levarem os corpos para os crematórios. Acho que só vivendo mesmo, não consigo comprar este caos com alguma coisa que já tenha vivido. ”Welcome to Índia” pensava eu a rir.
Levou-me ao Blue Lassi, ao melhor Lassi de Varanasi que estava delicioso, fomos jantar a um restaurante típico e ainda me levou a um templo fora da cidade e explicou-me toda a sua história.
Encontrei-me com o Shukdev várias vezes e criei um laço especial, sentia-me bem com ele e aprendi imenso somo a religião Hindu e sobre a sua cultura. Uma partilha sem filtros onde sempre dei a minha opinião e ele a dele, super curioso sobre a minha vida em Portugal e o porquê de optar por viajar assim.
É pena estas pessoas serem uma pequena passagem na vida, pois há tanto para falar, dei por mim perdida nas horas a receber tanta informação. Foi incrível.
Se passarem por Varanasi e este ser é uma das pessoas que têm que conhecer, mas têm que estar preparados porque vão aprender muito desta só pessoa.
Depois de 5 meses no Nepal sinto-me renovada, todos os ensinamentos que as montanhas me ofereceram, todas as pessoas que conheci, e a paz e felicidade que preencheram a alma e o coração.
Pudesse eu explicar o que sinto através de palavras, fosse eu um Fernando Pessoa e faria dos sentimentos um livro que moveria mundos e vidas, não sendo, movo o meu mundo escrevendo o que sinto já me é suficiente.
Agora ao iniciar a minha viagem pela India pergunto-me,
Será possível apaixonar ao chegar? Será possível ser abraçada pela cultura e religião? Pintaram-me o caos e assustaram-me com histórias tuas, mas não passou disso. Ao sentir-te apaixonei-me. Olá Índia. Olá Varanasi.
Varanasi é a cidade habitada mais antiga do mundo e a mais sagrada da Índia, a cidade onde muitos escolhem terminar a sua passagem por esta vida porque acreditam que se a suas cinzas forem deitadas no rio Ganges acabam com o ciclo da reencarnação e alcançaram a paz interior. O rio sagrado nasce nos Himalaias e cruza uma Índia que o cuida de uma forma especial, especialmente em Varanasi.
Ao longo dos Ghats (portas) é possível ver as pessoas a tomarem banho, darem banho às vacas, lavarem a roupa, os dentes e até a beberem água. Resumidamente tudo se faz no Rio Ganges.
Neste rio são atiradas as cinzas dos corpos previamente cremados nos ghats, os corpos das crianças, das mulheres grávidas, dos animais, de pessoas mordidas por cobras, ou doentes de lepra são afogados pois estes não podem ser cremados.
Uma caminhada pelos Ghats tem muito que se lhe diga, é um ensinamento, uma escola. Fui questionada uma série de vezes, acompanhada por locais curiosos sobre mim, o que fazia ali, quem eu era e no que acreditava. Partilhando comigo a sua sabedoria ganha ao longo dos anos de meditação e encontros interiores.
Há sempre coisas a passarem-se ao longo do rio, por isso o melhor é sentar e desfrutar o ambiente, as pessoas, as conversas acompanhadas pelo belo chai.
Passei horas sentada a escrever e falar com estranhos, bebi um número incontável de chais e apaixonei-me por esta cidade.
O que fazer por Varanasi?
1.Uma volta de barco e ver o nascer do sol.
A não perder não só pela bola de fogo que nasce no rio Ganges, mas por todo o ambiente do acordar de Varanasi, a mística que há no rio pela madrugada. Já há pessoas a tomarem banho, outras a rezarem e outras a lavarem a roupa.
Pelo barco é possível ter uma vista mais panorâmica sobre os ghats.
2. Beber chai e sentar nas escadas a observar e absorver
O meu preferido! Tive oportunidade de falar com muitos locais sobre a vida em geral e conseguir compreender mais a visão do hinduísmo. Ver a morte com outros olhos e a beleza que é o apego que estas pessoas têm a este rio, e o carinho com que o cuidam.
3.Ceremonias de fogo na ghat Dashashwamedh
4. Amanhecer no Asi Ghat e aproveitar a aula grátis de Yoga
5. Perder-se pelas ruas de estreitas Bangali tola e descobrir a beleza de o dia-a-dia na cidade mais velha do mundo.